Desabafos soltos

 Gosto de me manter a par das notícias e informada sobre o que diz respeito a questões económicas, sociais e políticas. Mas ultimamente parecemos estar a normalizar as imagens de uma guerra horrenda e comecei a recusar ver as mesmas. Os telejornais começam sem filtro a qualquer hora do dia, mostrando a desgraça, o horror, a dor que espelha os sentimentos de um país em sofrimento. Parte-me o coração e faz-me sentir impotente. Aqui estou eu, calmamente em casa, quente, acolhida, serena e sem medos e parece-me tão desigual quanto injusto. E não falo só da Ucrânia mas de qualquer país que vive em guerra, em desigualdades e em miséria. Procuro sempre fazer o que me é possível: contribuir financeiramente para ajudar instituições que trabalham no terreno, enviar alimentos e medicamentos através de associações organizadas e divulgar. 

Mais recentemente e após a entrega de um desses donativos organizados, resolvi juntar-me a uma associação da minha zona que todas as semanas faz a recolha de quebras em supermercados, bem com, pontualmente, acções solidárias de recolha de alimentos em supermercados para organizar cabazes que oferece a famílias carenciadas. Podermos ajudar desta forma ajuda-nos a abrir os olhos e o coração e a perceber o quão gratos devemos ser por termos comida na mesa. A gratidão é um exercício que pratico todos os dias, que me ajuda a focar no que realmente parece simples mas é tão importante, até porque tive uma infância conturbada, o que me ajuda a perceber o que é estar do lado de lá. A violência doméstica e a falta de dinheiro faziam parte do meu dia a dia. O meu almoço, quando era pequenita, por vezes não era mais do que um pãozinho com o que fosse possível por lá dentro: marmelada, ou manteiga. Nos dias bons, um panado e uma folhinha de alface. Fui vítima de bullying quando ainda nem havia nome para o que me faziam. Mas tenho as pazes feitas com essa época da minha vida e agora vejo-a como uma aprendizagem tremenda que me ajuda todos os dias a agradecer a vida serena, estável e confortável que tenho. Saibamos agradecer o que temos, o que somos, o que vivemos, o que aprendemos e o que podemos fazer. 

B.

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