De menina a mulher

Cresci numa família católica, num tempo e num lugar em que a Igreja e Deus eram associados ao medo. Havia amor, havia fé, mas havia também receio. E digo isso porque cresci com uma avó maravilhosa que, a toda a hora, dizia que tinha medo que, por eu ser tão boazinha, Deus me levaria depressa para o seu abraço. Não me levou. E essa bondade de criança, esse coração puro e imenso, deu lugar a uma adolescente mais reservada e a uma jovem que, em alguns momentos se deixou levar pelas emoções, pelas ansiedades e pela vida e que tomou algumas decisões erradas - felizmente nada de muito grave, mas sei, ao olhar para trás, que podia ter feito muito melhor. A responsabilidade foi inteiramente minha e ainda assim, ainda me agradeço pelas situações em que fui muito protegida e em que ouvi o meu coração e soube recuar no momento certo. Olho para trás e sinto o quão protegida fui e o quão privilegiada sou. A essência não se perde, mas a energia muda e eu deixei que a minha mudasse e que a menina boazinha desse lugar a uma pessoa que tinha muito para melhorar. 

Hoje já não sou menina nem jovem. Hoje sou uma mulher que tenta resgatar essa bondade de criança, que sabe que dificilmente o conseguirá, mas que tenta a toda a hora ser melhor, fazer melhor e dar o melhor: não por medo, mas por agradecimento por tudo o que tenho recebido na minha vida. Nunca deixei de rezar e, ao olhar para trás, vejo como fui tão ouvida e como Deus sempre me atendeu nos pedidos que, vejo agora, eram realmente bons para mim. E sei, conscientemente, que o que possa não ter sido atendido, não era para o meu bem. Deus é amor. Deus é compaixão. Deus escuta-nos. Deus faz o que é o melhor para nós. Falar com Ele é um dos melhores momentos do meu dia e ser escutada, uma das mais belas sensações da vida. 


B.

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